O oxigênio hiperbárico (OHB) consiste na inalação de oxigênio a 100% numa pressão acima da pressão atmosférica, estando o paciente em ambiente hiperbárico (dentro de uma câmara hiperbárica). Dessa forma, pela respiração, oxigênio em grande quantidade penetra no corpo e através da circulação atinge todos os pontos do organismo, dissolvido no plasma. Nos pontos em que existe alguma alteração celular ou tecidual (inflamação, infecção, distúrbio auto-imune, isquemia) a presença de oxigênio restaura muitas das funções necessárias para controle dessas alterações mencionadas.

Nos pacientes oncológicos, pode haver indicação de OHB como tratamento adjuvante em alterações que também são encontradas em pacientes não oncológicos, como infecções de ferida cirúrgica, feridas que não cicatrizam, etc.

Porém nesses pacientes pode existir uma indicação extremamente específica de tratamento com OHB que são as lesões tardias ocasionadas pela radiação ionizante (radioterapia) chamadas também de lesões actínicas. Essas lesões ocorrem nas proximidades da área irradiada e são causadas pelo comprometimento da circulação dos tecidos, que se tornam tecidos 3H (hipóxicos, hipovasculares e hipocelulares) ou seja com poucos vasos circulatórios, pouco oxigênio e pouca células. São tecidos fibróticos, doentes, que formam feridas facilmente, sangramento, necrose e muita dor. Uma característica interessante é que essas lesões vão se acentuando com o passar do tempo. Assim as manifestações podem acontecer muitos anos após a aplicação da radioterapia.

As lesões actínicas mais frequentes são nos ossos da mandíbula, na bexiga, no reto e nas mamas, que são onde existem os tumores mais frequentemente tratados com radioterapia. Essas lesões apresentam sintomas extremamente desconfortáveis para os pacientes, como dor, sangramento, necrose. Muitos pacientes, mesmo curados do tumor inicial, ficam impedidos de realizar as atividades de vida diária. Algumas vezes, as lesões actínicas não são aparentes, mas se manifestam quando o tecido é manipulado. Isso é relativamente comum quando se pretende corrigir alterações dentárias, com colocação de implantes em mandíbulas que foram irradiadas no passado. Ao ser manipulado, o osso necrosa e o implante se perde.

Nesses tecidos com lesões actínicas, o OHB tem um efeito único, que é restaurar a circulação através da formação de novos vasos (neovascularização), com o que a oxigenação do tecido retorna e as células reaparecem. Esse efeito chega ao máximo quando o paciente recebe vinte sessões de OHB com recuperação do 80% da circulação.

Em nossa experiência com 94 pacientes encaminhados para tratamento, houve regressão total dos sintomas em 85% deles e regressão parcial em outros 10%, o que é um resultado excelente considerando a complexidade e gravidade desses casos.

Uma observação importante relacionada a oncologia é que o OHB NÃO agrava tumores residuais, nem desencadeia recidivas ou metástases, portanto não há possibilidade de haver nenhuma piora oncológica.